terça-feira, 27 de agosto de 2013

O menino Anderson, o mago Deco.


De Anderson, o menino lutador, à Deco, o mago e o maestro: Obrigada.




Deco, aquele que uma hora chamam de maestro, noutra de mago. Confuso? Que nada. De personalidade forte e futebol fino, percorreu uma trajetória de sonho, escrevendo uma história das que mais me impressionam, como torcedora apaixonada pela arte e exemplo que o futebol proporciona. Por que? Porque me toca a história do Anderson, o menino, antes de se tornar Deco, o mágico. 



A primeira oportunidade de Deco foi no Guarani (SP), clube ainda conhecido por revelar grandes talentos. Pouco aproveitado, escolheu ir para a capital e passou pela Juventus da Mooca e pelo Nacional da Barra Funda, que o serviu de ponte para chegar em seu primeiro clube grande: o Corinthians.



A bola cola no pé, não? rs Lindo.


Aos 20 anos, após “comer areia” do árduo mundo da formação profissional, caminho que lida com constantes injustiças e covardias contra garotos que apenas desejam uma chance, dada normalmente, só para quem já esteja “acorrentado” a empresário,  Deco assinou seu primeiro contrato profissional com o Corinthians. Sou capaz de imaginar a alegria, a sensação de realização, no rosto do menino Anderson...   



No entanto, com o Corinthians campeão da Copa do Brasil e contratando “nomes de peso” para a disputa da Libertadores, como Túlio Maravilha, (irônico como a vida o futebol, não?), Deco fez duas partidas e foi preterido. O pior? Negociado para o CSA da Alagoas. Desta vez, eu sou incapaz de imaginar o baque. O que passou na cabeça daquele menino e da sua família?


Deco, em destaque, no time do CSA, de Alagoas, em 1997.




E nessa gangorra com a velocidade de uma montanha russa, meses depois, o Benfica (Por) o contratava. Para jogar no mais popular clube português? Não. Nunca jogou. Fora emprestado uma temporada para o Alverca e noutra temporada para o Salgueiros.



“ENFIM”,  o Porto o contratou. Aos 22 anos de idade, Deco “iniciaria” sua carreira, finalmente! Não mais as tribulações e incertezas do início de carreira, agora, ele ganharia a primeira sequência de jogos num clube local de ponta e visibilidade, entrando em cena com sua melhor característica: o talento.


Deco beija o troféu da Liga dos Campeões, pelo FC Porto.


Após ilusões e desilusões extremas, de se profissionalizar num Corinthians e “acabar” no CSA, de ser contratado pelo Benfica para jogar no Alverca, aquele jovem de 22 anos já trazia na bagagem uma história de persistência e luta, muito comum entre os jogadores de futebol, inclusive, ou especialmente, aos mais talentosos.

No Barcelona, comandou o time para nova conquista da Liga dos Campeões.


Num ambiente e cenário cujos empresários e agentes MANDAM nas bases dos clubes e profissionalizam “qualquer um”, basta ter preparo físico, o talento é dispensável. Em regra. Para os empresários e a maioria dos técnicos tem sido assim: o talento que não é tudo virou o talendo que é desnecessário. No entanto, para o futebol, o talento será sempre essencial e imprescindível. Para o futebol, o talento sempre será a diferença.




Foi assim que Deco fez história e fez a diferença. Cumprindo a profecia de suas próprias palavras: “No fim, o tempo é o suficiente para pôr tudo no seu devido lugar.” O tempo colocou Deco no devido lugar no mundo do futebol, fazendo do típico camisa 10 brasileiro – cada vez mais escasso por motivos supracitados – tornar-se o “camisa 20” dos mais brilhantes dos últimos anos, um dos melhores da sua geração.


Na Seleção Portuguesa: a melhor desde Eusébio nos anos 60, um vice-campeonato da Europa



Nos campos do Porto e do Barcelona ou com a “camisola” da Seleção Portuguesa, Deco proporcionou jogadas mágicas, sempre na criação, na origem da jogada, aquela mais difícil de realizar, ele fez como se fácil fosse, sem esforço algum. É assim o talento. Nos campos do Chelsea e do Fluminense, mesmo já sofrendo com problemas musculares, diminuiu seu ritmo de jogo, e na base da categoria elegante, tornou-se o maestro.

No Chelsea, com Lampard: mais títulos e o início dos problemas musculares.




O mago, o maestro, o menino que virou homem tão jovem por conta das injustiças a serem enfrentadas por um jogador em início de carreira, o Deco que fez o meu Fluminense encantar toda vez que em campo conseguiu estar, desceu as cortinas do seu espetáculo: uma história onde o talento só foi possível nos alcançar e maravilhar porque um jovem teve persistência e resistência incalculáveis, heróicas, quase santas. 



Agora, ele descansará seus músculos com a certeza de que escreveu uma história de carreira de talento e força mental e emocional. Deco deve tudo àquele menino por suportar virar homem tão cedo, de forma tão súbita, deliberadamente bruta, para realizar seu sonho e conquistar seu ganha-pão. 


Com a esposa e filhos, em reportagem para Portugal, novembro de 2012.


Ao Anderson Luís de Souza, que hoje, 27 de agosto, completa 36 anos,  marido de Ana Paula, pai de Pedro Henrique, João Gabriel, David, Yasmin e Sofia e um dos mais talentosos jogadores que vi jogar, meu muito obrigada.


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Então é isso, pessoal.

Abraços,
fraternalmente,
Crys Bruno.







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