quinta-feira, 26 de maio de 2016

Derrota anunciada

Levir joga a bola para o time do Palmeiras: escalação foi determinante para atrair a derrota.
Foto: Mauro Horita\GE

Oi, pessoal.


Desde a terça-feira, quando soubemos que o time titular vinha com Edson, mais um "volante sem passe", além de Pierre, desanimei. A escolha por um meio-campo (setor mais importante de um time) lento e sem criatividade foi como anunciar ou pedir a derrota.

Vamos lá: muitos torcedores podem achar que Cícero pode ser o 10, um Conca, o armador. Levir, não. Levir tem que saber que Cícero é um segundo volante com qualidade no passe e, embora lento, precisa que o primeiro volante seja ágil para completá-lo. É como Fred ou todo centroavante precisa de outro atacante de velocidade. Ou como sabemos ser desastroso escalar dois zagueiros lentos e pesados.


É assim na cabeça-de-área também. Com um agravante: trata-se do setor cerebral de um time. Com Pierre, Edson e Cícero (já que Osvaldo e Scarpa foram jogadores de lado de campo), pouco ou quase nada podíamos fazer com a bola. Pouco ou quase nada eu esperava do time. 


Nem melhorias na marcação um meio com Pierre e Edson consegue porque falhará num momento, já que atrai demais o adversário, não suportando muito tempo de pressão. Algo usado pelos italianos, mas eles sempre tiveram em seus jogadores defensivos, jogadores ímpares em categoria, ao contrário do Brasil. Levir me decepcionou. Até no seu forte,as entrevistas, ele me decepcionou.


Para quem não assistiu a partida e ouviu sua coletiva pós-jogo, imaginou que o Fluminense perdeu porque não aproveitou as chances de gol que teve. Mentira. O Fluminense perdeu porque quis atrair o adversário, deu campo para seu domínio, jogando por uma bola num contra-ataque. Nenhuma posse de bola trabalhada, marcação ofensiva, criação. Nenhuma. Nada! O Fluminense jogou como um time apequenado, retraído, que almeja achar um gol. Decepcionante.


A derrota anunciada na escalação se concretizou. Levir "Drubsckou". Que sirva de lição ao técnico que chegou a apostar no espírito ofensivo, mas cedeu ao "retranqueirismo" que só funciona numa circunstância de jogo, ou nos minutos finais, ou iniciais, mas nunca como proposta para 90 minutos. Levir Culpi, ontem, foi Enderson, Eduardo Baptista. Não pode. Não deve. E espero que não se repita mais.


Domingo, às 16h, enfrentaremos o Botafogo. Para vencer o primeiro clássico nesse ano é preciso querer vencer, escalando, no mínimo, um meio-campo com cérebro. Porque não adianta ter dois volantes brucutus que com a bola não sabem passar, igualmente não adianta ter um volante com bom passe (Cícero) sem opção na frente.


Ainda aposto mais na escalação com o trio ofensivo e sem a dupla Pierre e Edson, da vitória na estreia do Brasileiro. É o mínimo. E será mais a cara de Levir. Para que ele não seja, em mais uma partida, "um burro" sem sorte.

A conferir.

Abraços,
fraternalmente,
Crys Bruno.

domingo, 22 de maio de 2016

Alegria roubada

Gum marca seu gol em partida que o árbitro baiano Jaílson Macedo nos tirou a alegria e a vitória.
Foto: Lancenet


Oi, pessoal.

Após desperdiçar todo o primeiro tempo quando não conseguiu jogar bem nem ameaçar o adversário, nosso time retornou para o segundo com Gérson no lugar de Richarlison para povoar o meio-campo, completamente dominado na primeira etapa.

Richarlison é um jogador de área e enfrentando uma retranca, ficou sem espaço e não conseguiu encaixar seu jogo como gostaria. A substituição não me agradou porque Gérson (que eu gosto muito pelo talento) não garantiria que o meio subisse a marcação. Precisávamos adiantar o meio-campo mais do que povoá-lo. 

O Santa marcou seu gol aos sete minutos e, graças a categoria e treinamento de Scarpa, empatamos numa falta, virando o jogo logo depois, num escanteio. Foi o que conseguimos fazer no jogo todo. Era pouco, muito aquém, mas o suficiente. 

Em nenhum momento dominamos a partida ou ameaçamos o adversário com intensidade. Mas estávamos a frente no placar e naquela altura conseguia-se também segurar o Santa Cruz. Até que o árbitro, que após nossa virada, marcava tudo, tudo, tudo, especialmente nosso contra-ataque, inventou um pênalti absurdo e já nos minutos finais do jogo, o que nos impediu de buscar o terceiro.

Alegria roubada pelo senhor Jaílson, vitória furtada de forma grotesca, repetindo o ano passado onde nas primeiras rodadas igualmente tivemos graves erros dos homens de preto, erros que determinam o resultado. Lembram-se?

É por isso que precisamos melhorar nosso futebol ainda mais, diminuindo assim a margem de possibilidade para que o apito inimigo nos garfe. Não raro ou até muito comum, a má vontade da arbitragem consegue sempre nos tirar pontos. Num campeonato nivelado, isso é determinante. E não é choro nem mimimi, é mesmo mera constatação. 


Por isso que brigo pela qualidade do nosso jogo, nosso rendimento. Ontem, infelizmente, desperdiçamos 45 minutos. O primeiro tempo todo nulo e até sofrendo pressão do adversário. Não pode. Com isso, também damos vazão para que o apito inimigo nos prejudique. Fica a lição. 


Próxima quarta-feira, diante do Palmeiras, em São Paulo, é tentar recuperar a alegria e os pontos roubados dessa segunda rodada. O espírito tem que ser esse! 


::Toques Rápidos::

- A cada competição e ano, a SporTV se supera quando o assunto é Fluminense. Ontem, na transmissão, eles quiseram comparar um lance de impedimento que originou um escanteio com um pênalti inventado para o adversário. Essa turma da Globo costuma ser grosseira com a gente. E igualmente desprezível.

- Pierre é um profissional muito dedicado e tudo, mas não pode ser titular do time. Não sei se Edson vai ser negociado, se há algo para ele não completar sete partidas. O que seria um erro atrás de outro. Cícero e a dupla de zaga precisam que o primeiro volante seja mais ágil. Pierre é excelente na composição do elenco, não como titular.

- Maranhão foi confirmado. E tudo que eu peço é que ele consiga errar menos que Osvaldo e Marcos Jr. Esse último, ontem, teve a bola do terceiro gol, mas como na maioria das vezes, fez a jogada errada. 

- Ao "Palestra Itália" para vencer, Fluzão! 

Bom domingo a todos,
fraternalmente,
Crys Bruno.


domingo, 15 de maio de 2016

Espírito de ataque


Com pressão de Osvaldo, que roubou uma bola e passe de Richarlison, Fred marca o gol da vitória tricolor.
Foto:Globo Esporte.com

(Versão em áudio, no fim do texto. Ouça, lá!)


Oi, pessoal.

Impondo-se como time grande, atacando e marcando com a mesma intensidade, ligado como um Falcão, sem deixar o ritmo cair como de hábito, Fluzão estreou com vitória e uma atuação de quem quer brigar pelo caneco.


O espírito ofensivo, como afirmou nosso técnico, prevaleceu nas duas últimas partidas e com Fred em campo, algo que estava sendo questionado se seria possível. É possível. A aposta certeira de posicionar jogadores ofensivos nas pontas (Scarpa e Osvaldo) e mais um atacante (Richarlison) próximo do camisa 9, povoou o ataque: agora a segunda linha de quatro marca pressão na saída do adversário e se recompõe ao meio-campo com naturalidade.


Vale destacar que para continuar funcionando, a escalação precisa manter o quarteto ofensivo de jogadores com essas características. Logo que Gérson entrou, numa ruim escolha do Levir para quebrar o ritmo do adversário, quebrando mais o nosso, vimos que o jogador que substituir um desses três que cercam Fred, terá que ter o mesmo ímpeto ofensivo.


Iremos perder, empatar, como perdíamos e empatávamos com aquelas retrancas "Abelescas", "Eduardinas",  "Endersonzinas", mas jogaremos um futebol de time grande que somos, um futebol atrativo como devemos e precisamos para nos fincar como um dos protagonistas tanto nacional quanto desse campeonato ainda mais nivelado, que só espera o espírito de ataque para escolher seu campeão.


Espírito de ataque e, não, espírito de araque, é o que queremos ter do time sempre. Para isso, equilibrar e qualificar um pouco mais o elenco é fundamental para que se evite as oscilações que persistem.


O ataque só tem Fred de nível para jogos grandes, decisivos. Richarlison é o único com talento mas ainda muito menino. Maranhão chegará para qualificar um pouco mais, algo que Felipe Amorim não conseguiu e não podemos contar só com os irregulares Osvaldo e Marcos Jr.


É qualificando o setor de organização (criação) e finalização que daremos estabilidade ao time e alçaremos o Fluminense no topo como forte candidato ao título, matando de vez o espírito de araque horripilante que insiste em nos assombrar em algumas pelejas.



Domingo, 18:30h, em Volta Redonda, receberemos o Santa Cruz. Quem sabe já com o novo contratado, Maranhão, à disposição, com Jonathan, que é importantíssimo, recuperado, vendo novamente Edson e Cícero antenados na cabeça-de-área e nosso Cavalieri decidindo sair do gol (foi ótimo ver isso!). Domingo é jogo com obrigação de vencer. Obrigação.



ST,
fraternalmente,
Crys Bruno.

ERRATA: Pessoal, jogo do Fluzão será no sábado, não no domingo, como mencionei. Desculpe a minha falha.


Em áudio:

Largada para o penta

A aposta no novo posicionamento para evitar apagões: Levir usa o simples para não complicar..
Foto: Egdar Maciel de Sá\Globo Esporte.com


Oi, pessoal.

Entrou em campo o Brasileirão 2016 e nosso tricolor estreará nesse domingo, às 16h, em Belo Horizonte, diante do América-MG, com nova escalação e posicionamento. 

A novidade é titularidade de Richarlison, um jogador ofensivo, no lugar de um segundo volante avançado, Gérson. Uma única alteração modificou completamente a característica do time e assistimos na convincente vitória contra a Ferroviária, um Fluminense com maior poder ofensivo.

O que ajudou também foi a ausência de Pierre que, apesar de toda entrega e voluntarismo, não pode ser titular, ainda mais porque um jogador de muita qualidade, mas lento como Cícero, precisa ter um primeiro volante mais ágil ao lado. 

Cícero é segundo volante. Não é o 10. Não é meia armador nem atacante. É ali na origem da jogada, dando qualidade no passe para a saída de bola, que ele deve jogar, chegando ao ataque como elemento surpresa e pela qualidade dele, mais vezes, aliás.


Cícero é garantia de bom passe na saída de bola, mas a bola tem que passar por ele, precisamos dele no jogo.


Torço para que o clube traga um jogador para a "volância", como dizem, ou que Edson assente, finque seus pés no chão, após meses parecendo mais preocupado em se destacar com gols e virar ídolo do que em ser o que é, o camisa 5, o protetor da zaga.


A zaga parece definida com Gum e Henrique e, enquanto um lateral-esquerdo minimamente técnico não chega, Wellington Silva quebra um galho ali, mas deverá ser banco para Jonathan, que é mais completo, especialmente, na marcação. 

Marcação que tem, como vemos na foto acima, a linha de quatro compactada, sem espaços entre os laterais e a zaga - por isso, a preferência por laterais mais marcadores, é fundamental.


Sem a bola uma segunda linha de quatro que tanto critico, mas que esse time sempre usou, mas que, ao contrário de um jogadores lentos por trás do Fred, atacantes ágeis: ou Osvaldo ou Richarlison, bem próximo do capitão para facilitar a tabela.


Tabela que encaixou no último jogo porque haviam jogadores mais agudos, mais ofensivos, com o trio Osvaldo, Richarlison e Scarpa fazendo deslocamentos em X, tornando o time mais envolvente porque dificulta a marcação adversária, tirando aquela previsibilidade, aquela coisa robótica (de um robô mal programado).


Flu sai com a bola: no ataque, como sempre pedi, opções de passes, sem Fred está isolado.


A aposta de Levir é promissora por ser simples, descomplicado, algo que os jogadores conhecem bem porque se usa no Brasil desde que eu era pequenininha - e isso faz tempo! Mas como toda escolha de posicionamento, só se tem resultado se conseguir encaixar as características dos jogadores no espaço que atuam.


Contra a Ferroviária, a escolha por mais atacantes, iniciando a marcação no ataque. sem dar campo para que o adversário avance sem pressão alguma na saída de bola, evita com o que o time trave quando a recupera por ter opções à frente. Quando a turma de trás e do meio não têm essa opção, costumam rifar, alongar ou se livrar da redondinha, "chuveirando" para Fred.



Isso tudo só ganhará regularidade, alçando o Fluminense na briga pelo penta, se melhorarmos um pouco mais a qualidade técnica do nosso elenco. Comparando com outros times como Atlético, Santos, Corinthians, São Paulo, e até a dupla Gre-Nal, temos mais atletas muito aquém daquele limite de ruindade qual nos acostumamos. Nas minhas contas, uns seis desses que jogam ou são opções nulas no banco.


O maior problema é que esse "aquém do aquém" se encontra nos dois setores principais do time: meio e ataque. Por isso, além de "equilibrar o elenco" com um lateral esquerdo e trazer um meia, o Fluminense PRECISA DEMAIS de um naipe de jogadores ofensivos mais qualificado. Contamos somente com Fred com dificuldades físicas e um garoto muito bom de bola, o Richarlison, mas, um garoto...



Scarpa, nosso motor, e Richarlison: esperanças de gol  e de qualidade no setor mais carente do elenco tricolor.



A quase certa chegada de Maranhão é excelente notícia. Tem tudo para melhorar o setor ofensivo. Só que precisamos de dois dele. Nosso ataque é fraco, muito fraco, para um time que quer brigar pelo título ou mesmo para figurar com regularidade no G4.


Mas se conseguirmos qualificar esse setor, ah, amigo, pode preparar os remedinhos porque brigaremos. sim, pelo penta! Veremos nosso tricolor nas cabeças, mais regular porque estabilizado. Conto com isso! E, hoje, às 16h, será a largada! Preparar, apontar... FOGO NELES, FLUZÃO!


::TOQUES RÁPIDOS::

- Sai do gol, Cavalieri! Agride a bola! Você pode. Você consegue.

- Sugestão para melhorar a performance: Quem fizer faltas na entrada da área e\ou passar a bola para o Gum na saída de jogo será drasticamente multado com o valor de R$ 500,00 reais por cada falta e passe. Se liga, Edson!

- Se o time baixar a marcação, ficar de lenga-lenga, atraindo o adversário para nosso campo de jogo, o multado será Levir!

- Por fim, mas não menos importante, é o seguinte:  "Vamos brigar por mais essa taça! Vamos, Fluminense, com garra e com raça!" Não pararemos de cantar, apoiar e ajudar com nossos alertas, tanto aqui na Arquibancada Cativa quanto lá no Panorama Tricolor. Nen-se! Nen-se! Nen-se!




Abraços,
fraternalmente,
Crys Bruno.


sábado, 7 de maio de 2016

Zona Euro: O que ensinam Atlético de Madrid e Leicester?

Ao lado de Ranieri, Wes Morgan ergue a Taça do Campeonato Nacional mais visto do mundo: o inglês.


Oi, pessoal.


Leonardo Trevisan, um dos meus 12 leitores e meio, me pediu para falar sobre o triunfo do pequeno Leicester, na Inglaterra, e do sucesso em mais uma temporada do Atlético de Madrid. Pedido feito, missão cumprida.

Entre 2010 e 2015, vivi praticamente no Velho Continente, entre dois países que me acolheram com singeleza: Inglaterra e Portugal. Na terra britânica, vi títulos dos bilionários Chelsea e Manchester City e o início da decadência do todo poderoso United.

Muito próxima dos campeonatos e repercussões de lá, algumas constatações pessoais me impressionaram e a principal delas é que não existe um futebol europeu e, sim, dois. 

Um deles diz notadamente respeito ao futebol inglês. Berço do esporte que se tornou o mais popular e rentável do mundo, a Inglaterra faz e lida com o futebol de um jeito muito próximo da fidalguia de seu povo.

Tentarei explicar melhor: lá, se um jogador erra um lance, erra outro, erra vários ou todos, seu torcedor, não raro, o aplaude como apoio. Vaiar? Nem pensar!!! Junto disso, os treinadores são tratados como protagonistas, os estrategistas, um Churchill: se um time ganha, o treinador vira lenda; se o time perde, o jogador foi mal tecnicamente. Dos times menores, manter-se na primeira divisão é "o título".

Desenho de Claudio Ranieri, técnico campeão do Leicester, que virou lenda na cidade. Leia mais: Reportagem do The Sun 


Resultado dessa cultura? Perda do espírito de competitividade, do espírito de campeão. Um jogador não se aprimora tecnicamente como deve, um treinador não trabalha para isto e se limita à parte física, inclusive para escalação. Mesmo com bons times, tanto sua Seleção quanto seus principais clubes, cada vez mais ricos, só eventualmente fazem frente à times alemães, espanhóis e até italianos.


São os alemães, espanhóis e italianos parte do outro futebol europeu. Os únicos que rechaçaram ou se distanciaram da cultura inglesa muito presente, por exemplo, em Portugal, especialmente na montagem de um time. 


Os alemães, não. Eles, mesmo fortes fisicamente como os ingleses, trabalharam pela aprimoração técnica. Seus jogadores são conhecidos pela eficiência, que é treinada exaustivamente. Sabem passar, finalizar, defender, sabem realizar todos os fundamentos que cada posição exige. Com isso, são melhores que os ingleses. 


Os italianos são os reis da defesa. Os maiores ídolos são os jogadores defensores. É a cultura italiana centenária. Atualmente sofrem com a derrocada financeira dos seus principais clubes, que passaram a contratar jogadores meia-boca mais que lançar novos atletas, além de verem seu sistema de jogo defasado para competições que envolvam, principalmente, clubes com jogadores individuais melhores ou ante alemães e espanhóis.

Cruyff, de óculos, visita o Barcelona de Guardiola: gênio como jogador, deu ao clube espanhol o mapa da grandeza. 



Enfim, os espanhóis! Sem a força física para imitar um inglês ou um alemão e, graças ao sempre ofensivo, técnico e imponente Real Madrid, que se afastava do estilo italiano, a Espanha sempre buscou a técnica e o gol. O 4-3-3 da Holanda, levada por Cruyff, ao Barcelona, ainda enraizou em seu outro grande clube a essência de que o primordial é a saber jogar bola ao invés de correr mais que ela e o adversário.


O grande mérito dos espanhóis foi beber na cultura antiga do futebol brasileiro e argentino, descobrindo que para combater a intensidade física dos times ingleses, alemães, italianos, não se podia, anatomicamente, se igualar, mas usar a técnica, o toque de bola. A posse e o toque de bola sempre quebraram a intensidade deles, levando o Brasil a ser o maior detentor de títulos do mundo.


Na contra-mão, nós, brasileiros, buscamos nos igualar no corpo, e abrimos mão da habilidade e do talento, especialmente, onde mais se precisa ter, no meio-campo. O "7x1" foi resultado disso. Mas essa é uma outra história.


Voltando ao Leicester. campeão inglês, a explicação passa, a meu ver, nessa cultura acima colocada. O gasto para temporada dos "Foxes" só foi maior do que a de dois times. Entraram na competição lutando para não serem rebaixados, jogaram para não perder. Contrataram, então, um especialista em defesa, um treinador italiano. O azarão deu encaixe. Ganhou confiança. E puderam atravessar sua campanha como sensação, com destaques para Mahrez e Vardy, graças as vexatórias campanhas dos favoritos.



O francês naturalizado argelino (isso mesmo que você leu!), Mahrez, foi o craque do Leicester e da Premier League.


Sem pressão estiveram os bilionários elencos do Chelsea, do Manchester City, do Manchester United e do Arsenal. O primeiro está fora da Champions. Os três últimos brigam pelas últimas duas vagas. Jogador, em regra, vai jogar nesses times para ficar milionário. Chegam sabendo que não serão cobrados por títulos. Nem que perderão seus empregos. Reparem que a base dos elencos é a mesma há anos. Não se cobra aos grandes ingleses como se cobra aos grandes na Alemanha, Itália, Espanha.


Espanha do Atlético de Madrid. Os Colchoneros chegam à final da Champions League pela segunda vez em três anos. Completamente diferentes do Leicester, por serem um clube muito maior e mais vitorioso, o Atlético é essencialmente um espartano ou o Davi espanhol.


Eu tive a alegria de conhecer tanto o Santiago Bernabéu quanto o Vicente Calderón. O que o Real tem de títulos da Liga dos Campeões, o Atlético tem de Campeonato Espanhol. Mas a paixão e o orgulho do seu torcedor são iguais.


Sempre vendo seu maior rival montar com pompas, times, normalmente, com grandes craques europeus, o Atlético se orgulha de enfrentá-los com espírito. Ora com times melhores, ora nem tanto, mas sempre uma carne de pescoço. Eu não assisti o vice-campeão europeu de 73, mas lembro com carinho do time que teve Paulo Futre e "Don Bernardo", ou melhor, Bernd Schuster, no início dos anos 90.


Simeone, como jogador do Atlético, campeão espanhol em 96.



Mais vitorioso ainda, logo após, foi o Atlético com Simeone, campeão espanhol, em 96. Na virada do século, os "Rojiblancos" sofreram com um rebaixamento e retornaram somente em 2003. Nenhum desses times históricos chegou em nível desse atual, comandado pelo mesmo Simeone, a garra com talento do volante argentino.

O "Dublete" inédito, conquista do Espanhol e Liga dos Campeões, em 2014, não ocorreu por diferença de segundos, porque no último lance da partida, o zagueiro merengue, Sérgio Ramos, fez o gol do empate do Real e os Colchoneros ficaram com o vice europeu. 


Novamente retornam a grande final da Europa, contra seu rival gigante, desejando mudar a história que realmente lhe deve essa conquista. No Espanhol, com os mesmos 85 pontos do Barça, precisa vencer os dois últimos jogos e torcer por um tropeço do rival catalão.


O segredo? Com a palavra, Diego Simeone: "Sabemos que nossos principais rivais são melhores que nós". Com uma diferença do time de 2014: esse Atlético segura mais a bola e ataca mais. Se contra "os rivais que são melhores", eles abaixam a marcação, fazem duas linhas de quatro que gera extrema dificuldade ao oponente, mesmo superior tecnicamente, contra todos os outros times espanhóis ou do mesmo patamar, esse Atlético 2016 não hesita, jogando na frente, agredindo, golpeando.


Vinte anos depois, Simeone como técnico do Atlético: campeão espanhol e pela 2º vez numa final da Champions.

Simeone aproveitou para dar cara de time argentino porque se o Atlético está inferior individualmente ao Real, Barcelona e mais, no máximo, dois, na Europa, é e deve ser superior a todos os outros. Essa temporada os Colchoneros se impuseram. Não raro seus resultados não foram magros como em 2014. 

É Simeone seguindo nosso saudoso e brilhante João Saldanha: "Futebol é simples: se seu adversário é melhor, você defende; se você é melhor, você ataca."


Pena que no Brasil isso mudou. A maioria só se defende. Uns clubes sem a cobrança e o espírito de campeão dos ingleses (como esse Fluminense maldito do empate diante da Ferroviária); outros, com esse espírito, só que nenhum como "o Davi, Atlético", nem como o gigante Real. Lamentável!


Abraços,
fraternalmente,
Crys Bruno.