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Ao lado de Ranieri, Wes Morgan ergue a Taça do Campeonato Nacional mais visto do mundo: o inglês. |
Oi, pessoal.
Leonardo Trevisan, um dos meus 12 leitores e meio, me pediu para falar sobre o triunfo do pequeno Leicester, na Inglaterra, e do sucesso em mais uma temporada do Atlético de Madrid. Pedido feito, missão cumprida.
Entre 2010 e 2015, vivi praticamente no Velho Continente, entre dois países que me acolheram com singeleza: Inglaterra e Portugal. Na terra britânica, vi títulos dos bilionários Chelsea e Manchester City e o início da decadência do todo poderoso United.
Muito próxima dos campeonatos e repercussões de lá, algumas constatações pessoais me impressionaram e a principal delas é que não existe um futebol europeu e, sim, dois.
Um deles diz notadamente respeito ao futebol inglês. Berço do esporte que se tornou o mais popular e rentável do mundo, a Inglaterra faz e lida com o futebol de um jeito muito próximo da fidalguia de seu povo.
Tentarei explicar melhor: lá, se um jogador erra um lance, erra outro, erra vários ou todos, seu torcedor, não raro, o aplaude como apoio. Vaiar? Nem pensar!!! Junto disso, os treinadores são tratados como protagonistas, os estrategistas, um Churchill: se um time ganha, o treinador vira lenda; se o time perde, o jogador foi mal tecnicamente. Dos times menores, manter-se na primeira divisão é "o título".
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Desenho de Claudio Ranieri, técnico campeão do Leicester, que virou lenda na cidade. Leia mais: Reportagem do The Sun |
Resultado dessa cultura? Perda do espírito de competitividade, do espírito de campeão. Um jogador não se aprimora tecnicamente como deve, um treinador não trabalha para isto e se limita à parte física, inclusive para escalação. Mesmo com bons times, tanto sua Seleção quanto seus principais clubes, cada vez mais ricos, só eventualmente fazem frente à times alemães, espanhóis e até italianos.
São os alemães, espanhóis e italianos parte do outro futebol europeu. Os únicos que rechaçaram ou se distanciaram da cultura inglesa muito presente, por exemplo, em Portugal, especialmente na montagem de um time.
Os alemães, não. Eles, mesmo fortes fisicamente como os ingleses, trabalharam pela aprimoração técnica. Seus jogadores são conhecidos pela eficiência, que é treinada exaustivamente. Sabem passar, finalizar, defender, sabem realizar todos os fundamentos que cada posição exige. Com isso, são melhores que os ingleses.
Os italianos são os reis da defesa. Os maiores ídolos são os jogadores defensores. É a cultura italiana centenária. Atualmente sofrem com a derrocada financeira dos seus principais clubes, que passaram a contratar jogadores meia-boca mais que lançar novos atletas, além de verem seu sistema de jogo defasado para competições que envolvam, principalmente, clubes com jogadores individuais melhores ou ante alemães e espanhóis.
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Cruyff, de óculos, visita o Barcelona de Guardiola: gênio como jogador, deu ao clube espanhol o mapa da grandeza. |
Enfim, os espanhóis! Sem a força física para imitar um inglês ou um alemão e, graças ao sempre ofensivo, técnico e imponente Real Madrid, que se afastava do estilo italiano, a Espanha sempre buscou a técnica e o gol. O 4-3-3 da Holanda, levada por Cruyff, ao Barcelona, ainda enraizou em seu outro grande clube a essência de que o primordial é a saber jogar bola ao invés de correr mais que ela e o adversário.
O grande mérito dos espanhóis foi beber na cultura antiga do futebol brasileiro e argentino, descobrindo que para combater a intensidade física dos times ingleses, alemães, italianos, não se podia, anatomicamente, se igualar, mas usar a técnica, o toque de bola. A posse e o toque de bola sempre quebraram a intensidade deles, levando o Brasil a ser o maior detentor de títulos do mundo.
Na contra-mão, nós, brasileiros, buscamos nos igualar no corpo, e abrimos mão da habilidade e do talento, especialmente, onde mais se precisa ter, no meio-campo. O "7x1" foi resultado disso. Mas essa é uma outra história.
Voltando ao Leicester. campeão inglês, a explicação passa, a meu ver, nessa cultura acima colocada. O gasto para temporada dos "Foxes" só foi maior do que a de dois times. Entraram na competição lutando para não serem rebaixados, jogaram para não perder. Contrataram, então, um especialista em defesa, um treinador italiano. O azarão deu encaixe. Ganhou confiança. E puderam atravessar sua campanha como sensação, com destaques para Mahrez e Vardy, graças as vexatórias campanhas dos favoritos.
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O francês naturalizado argelino (isso mesmo que você leu!), Mahrez, foi o craque do Leicester e da Premier League. |
Sem pressão estiveram os bilionários elencos do Chelsea, do Manchester City, do Manchester United e do Arsenal. O primeiro está fora da Champions. Os três últimos brigam pelas últimas duas vagas. Jogador, em regra, vai jogar nesses times para ficar milionário. Chegam sabendo que não serão cobrados por títulos. Nem que perderão seus empregos. Reparem que a base dos elencos é a mesma há anos. Não se cobra aos grandes ingleses como se cobra aos grandes na Alemanha, Itália, Espanha.
Espanha do Atlético de Madrid. Os Colchoneros chegam à final da Champions League pela segunda vez em três anos. Completamente diferentes do Leicester, por serem um clube muito maior e mais vitorioso, o Atlético é essencialmente um espartano ou o Davi espanhol.
Eu tive a alegria de conhecer tanto o Santiago Bernabéu quanto o Vicente Calderón. O que o Real tem de títulos da Liga dos Campeões, o Atlético tem de Campeonato Espanhol. Mas a paixão e o orgulho do seu torcedor são iguais.
Sempre vendo seu maior rival montar com pompas, times, normalmente, com grandes craques europeus, o Atlético se orgulha de enfrentá-los com espírito. Ora com times melhores, ora nem tanto, mas sempre uma carne de pescoço. Eu não assisti o vice-campeão europeu de 73, mas lembro com carinho do time que teve Paulo Futre e "Don Bernardo", ou melhor, Bernd Schuster, no início dos anos 90.
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Simeone, como jogador do Atlético, campeão espanhol em 96. |
Mais vitorioso ainda, logo após, foi o Atlético com Simeone, campeão espanhol, em 96. Na virada do século, os "Rojiblancos" sofreram com um rebaixamento e retornaram somente em 2003. Nenhum desses times históricos chegou em nível desse atual, comandado pelo mesmo Simeone, a garra com talento do volante argentino.
O "Dublete" inédito, conquista do Espanhol e Liga dos Campeões, em 2014, não ocorreu por diferença de segundos, porque no último lance da partida, o zagueiro merengue, Sérgio Ramos, fez o gol do empate do Real e os Colchoneros ficaram com o vice europeu.
Novamente retornam a grande final da Europa, contra seu rival gigante, desejando mudar a história que realmente lhe deve essa conquista. No Espanhol, com os mesmos 85 pontos do Barça, precisa vencer os dois últimos jogos e torcer por um tropeço do rival catalão.
O segredo? Com a palavra, Diego Simeone: "Sabemos que nossos principais rivais são melhores que nós". Com uma diferença do time de 2014: esse Atlético segura mais a bola e ataca mais. Se contra "os rivais que são melhores", eles abaixam a marcação, fazem duas linhas de quatro que gera extrema dificuldade ao oponente, mesmo superior tecnicamente, contra todos os outros times espanhóis ou do mesmo patamar, esse Atlético 2016 não hesita, jogando na frente, agredindo, golpeando.
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Vinte anos depois, Simeone como técnico do Atlético: campeão espanhol e pela 2º vez numa final da Champions. |
Simeone aproveitou para dar cara de time argentino porque se o Atlético está inferior individualmente ao Real, Barcelona e mais, no máximo, dois, na Europa, é e deve ser superior a todos os outros. Essa temporada os Colchoneros se impuseram. Não raro seus resultados não foram magros como em 2014.
É Simeone seguindo nosso saudoso e brilhante João Saldanha: "Futebol é simples: se seu adversário é melhor, você defende; se você é melhor, você ataca."
Pena que no Brasil isso mudou. A maioria só se defende. Uns clubes sem a cobrança e o espírito de campeão dos ingleses (como esse Fluminense maldito do empate diante da Ferroviária); outros, com esse espírito, só que nenhum como "o Davi, Atlético", nem como o gigante Real. Lamentável!
Abraços,
fraternalmente,
Crys Bruno.