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De Anderson, o menino lutador, à Deco, o mago e o maestro: Obrigada. |
Deco, aquele que uma
hora chamam de maestro, noutra de mago. Confuso? Que nada. De personalidade forte e
futebol fino, percorreu uma trajetória de sonho, escrevendo uma história das
que mais me impressionam, como torcedora apaixonada pela arte e exemplo que o
futebol proporciona. Por que? Porque me toca a história do Anderson, o menino, antes de se tornar Deco, o mágico.
A primeira
oportunidade de Deco foi no Guarani (SP), clube ainda conhecido por revelar
grandes talentos. Pouco aproveitado, escolheu ir para a capital e passou pela
Juventus da Mooca e pelo Nacional da Barra Funda, que o serviu de ponte para
chegar em seu primeiro clube grande: o Corinthians.
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A bola cola no pé, não? rs Lindo. |
Aos 20
anos, após “comer areia” do árduo mundo da formação profissional, caminho que lida com constantes injustiças e covardias contra garotos que apenas desejam uma
chance, dada normalmente, só para quem já esteja “acorrentado” a empresário, Deco assinou seu primeiro contrato
profissional com o Corinthians. Sou capaz de imaginar a alegria, a sensação de
realização, no rosto do menino Anderson...
No entanto, com o
Corinthians campeão da Copa do Brasil e contratando “nomes de peso” para a
disputa da Libertadores, como Túlio Maravilha, (irônico como a vida o futebol,
não?), Deco fez duas partidas e foi preterido. O pior? Negociado para o CSA da
Alagoas. Desta vez, eu sou incapaz de imaginar o baque. O que passou na cabeça
daquele menino e da sua família?
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Deco, em destaque, no time do CSA, de Alagoas, em 1997. |
E nessa
gangorra com a velocidade de uma montanha russa, meses depois, o Benfica (Por)
o contratava. Para jogar no mais popular clube português? Não. Nunca jogou.
Fora emprestado uma temporada para o Alverca e noutra temporada para o
Salgueiros.
“ENFIM”,
o Porto o contratou. Aos 22 anos de idade, Deco “iniciaria” sua
carreira, finalmente! Não mais as tribulações e incertezas do início de
carreira, agora, ele ganharia a primeira sequência de jogos num clube local de
ponta e visibilidade, entrando em cena com sua melhor característica: o
talento.
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Deco beija o troféu da Liga dos Campeões, pelo FC Porto. |
Após
ilusões e desilusões extremas, de se profissionalizar num Corinthians e
“acabar” no CSA, de ser contratado pelo Benfica para jogar no Alverca, aquele
jovem de 22 anos já trazia na bagagem uma história de persistência e luta,
muito comum entre os jogadores de futebol, inclusive, ou especialmente, aos
mais talentosos.
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No Barcelona, comandou o time para nova conquista da Liga dos Campeões. |
Num
ambiente e cenário cujos empresários e agentes MANDAM nas bases dos clubes e
profissionalizam “qualquer um”, basta ter preparo físico, o talento é dispensável.
Em regra. Para os empresários e a maioria dos técnicos tem sido assim: o
talento que não é tudo virou o talendo que é desnecessário. No entanto, para o
futebol, o talento será sempre essencial e imprescindível. Para o futebol, o
talento sempre será a diferença.
Foi assim
que Deco fez história e fez a diferença. Cumprindo a profecia de suas próprias
palavras: “No fim, o tempo é o suficiente para pôr tudo no seu devido lugar.” O
tempo colocou Deco no devido lugar no mundo do futebol, fazendo do típico
camisa 10 brasileiro – cada vez mais escasso por motivos supracitados –
tornar-se o “camisa 20” dos mais brilhantes dos últimos anos, um dos melhores
da sua geração.
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Na Seleção Portuguesa: a melhor desde Eusébio nos anos 60, um vice-campeonato da Europa |
Nos campos
do Porto e do Barcelona ou com a “camisola” da Seleção Portuguesa, Deco
proporcionou jogadas mágicas, sempre na criação, na origem da jogada, aquela
mais difícil de realizar, ele fez como se fácil fosse, sem esforço algum. É
assim o talento. Nos campos do Chelsea e do Fluminense, mesmo já sofrendo com problemas
musculares, diminuiu seu ritmo de jogo, e na base da categoria elegante,
tornou-se o maestro.
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No Chelsea, com Lampard: mais títulos e o início dos problemas musculares. |
O mago, o
maestro, o menino que virou homem tão jovem por conta das injustiças a serem
enfrentadas por um jogador em início de carreira, o Deco que fez o meu
Fluminense encantar toda vez que em campo conseguiu estar, desceu as cortinas
do seu espetáculo: uma história onde o talento só foi possível nos alcançar e
maravilhar porque um jovem teve persistência e resistência incalculáveis,
heróicas, quase santas.
Agora, ele descansará
seus músculos com a certeza de que escreveu uma história de carreira de talento
e força mental e emocional. Deco deve tudo àquele menino por suportar virar homem tão cedo, de forma tão súbita,
deliberadamente bruta, para realizar seu sonho e conquistar seu ganha-pão.
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Com a esposa e filhos, em reportagem para Portugal, novembro de 2012. |
Ao Anderson Luís de Souza, que hoje, 27 de agosto, completa 36 anos, marido de Ana Paula, pai de Pedro Henrique, João Gabriel, David, Yasmin e Sofia e um dos mais talentosos jogadores que vi jogar, meu muito obrigada.
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Então é isso, pessoal.
Abraços,
fraternalmente,
Crys Bruno.